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"Tem mais lá fora?"

Essa é a segunda parte de uma série de contos. Para ler a primeira parte, clique aqui .   Meio-dia! Eu já me acostumei a acordar meio-dia.   A primeira coisa que eu fiz foi olhar o relógio, já que eu tinha dormido com a cabeça sobre o braço esquerdo, então nem precisei me mexer muito.   "Onde estou?", pensei.   Demorou um pouco até eu perceber que aquele cubículo mal-iluminado e bagunçado era o meu apartamento. Com ele, eu ainda não me acostumei...   Fiquei deitado mais um pouco, tentando colocar a cabeça para funcionar, pois eu não estava conseguindo me lembrar exatamente como eu cheguei até aqui.   Carteira, chaves e celular estavam no lugar de sempre, sobre o criado-mudo, mas eu tinha a vaga impressão de que tinha deixado alguma coisa naquele bar...   "Isso!", então as lembranças começaram a voltar.   O bar. Não sei se consigo chegar lá outra vez. Não lembro direito o caminho até lá.   Mas foi, realmente, uma das experiências mais insólit
Postagens recentes

Tronick, o Barman

  Acho que foi uma boa ideia ter saído um pouco daquele apartamento para respirar um pouco de ar puro.   Ar puro...  Como se houvesse um canto dessa cidade com alguma atmosfera respirável. Me lembro muito bem da quantidade de remédios que andei comprando nos primeiros meses por aqui. No começo achei até que fosse morrer, mas eu pensei a mesma coisa durante a minha primeira ressaca e aqui estamos nós! Enquanto dirijo sem pressa pela cidade, observo as janelas acesas desses prédios, imaginando o que cada pessoa estaria fazendo a essa hora da madrugada. As janelas onde a intensidade da luz variava, presumi que estivessem assistindo TV ou talvez tenham dormido no sofá com ela ligada. Acontece o mesmo comigo, quase todas as noites! Nas luzes constantes, mas fracas, eu tenho o palpite de que seja alguém lendo, estudando ou trabalhando em algum projeto, um livro talvez...   Eu acabei de ligar o rádio do carro e só tem um programa onde o locutor fala de uma maneira tão monótona, que

O Viajante do Amanhã

  Uma placa dizia que aquela praça tinha sido inaugurada no dia 26 de maio de 1955. Diante dela estava um rapaz magro, usando uma blusa de lã aberta e calças jeans. Em seus óculos escuros, o reflexo distorcido da placa parecia um desenho surreal. De sua mochila ele tirou uma câmera fotográfica e, discretamente, disparou contra a placa levemente escurecida pelo tempo. Assim que terminou, ouvindo o avanço automático do filme, olhou mais uma vez a placa, coçando a nuca. De repente, sua visão turvou-se e sentiu como se mergulhasse sua cabeça num tanque d’água e a pressão o ensurdecesse levemente.   A primeira vez que sentiu isso foi aos 14 anos, quando viajava de mudança com seus pais por uma rodovia. Era de manhã e tocava algo no rádio – ele não lembrava muito bem, mas parecia bom. Estava tão distraído com um imenso e vistoso milharal que não teve tempo de ver contra o que o carro deles colidira, mas sentiu seu corpo sendo arremessado e bateu com a cabeça no pára-brisa. Estava escuro qu

Às Portas de um Castelo - 5ª Parte

Essa é uma série de contos. Deseja ler a 1ª Parte ou 4ª Parte ?   À medida que ele avançava naquela estrada, parecia que aquela subida se tornava cada vez mais inclinada, quase vertical. Mas ele sabia que estava perto do casebre porque disseram que o casebre do Velho ficava “perto da estrada, quando a subida terminava”.   O tempo estava se esgotando outra vez e ele não tinha menor noção de quanto tempo ainda tinha disponível... Ele precisava chegar!   Correndo o mais rápido que podia, ele chegou a cruzar com alguns loucos que não sabiam onde estavam, nem para onde iam e, portanto, seriam inúteis para indicar se ele estava no caminho certo. O céu continuava nublado, mas não estava tão escuro e ele conseguia ver os campos e pastagens que cercavam a estrada de terra dura. Então ele viu algumas árvores mais adiante e se apressou, correndo com as mãos próximas ao solo por causa da subida, tropeçando em seus próprios pés. Havia uma luz débil e alaranjada em cada janela do casebre e g

Às Portas de um Castelo - 4ª Parte

Essa é uma série de contos. Deseja ler a  1ª Parte  ou  3ª Parte ? ...   Jonas e David folheavam um livro, debruçados sobre uma bancada junto à parede. Enquanto isso, André olhava o grande espelho sem reflexo, apreensivo, sem se aproximar muito. Percebendo a curiosidade do novo amigo, David pediu que ele tocasse a superfície do espelho e garantiu que não havia nada a temer. Então, cuidadosamente, o rapaz aproximou-se do espelho na parede, com o braço estendido e quando as pontas dos seus dedos estavam a poucos centímetros da superfície, Jonas, que observava em silêncio, gritou:   - Meu Deus! – e vendo o susto que deu em André e, consequentemente, em David, caiu na gargalhada, apontando para o novato. – Te peguei!   Passado o susto, David, que passou pela mesma situação antes, sorriu, balançando a cabeça, mas André estava assustado ainda.   - Vá em frente. – disse David, procurando acalmá-lo.   Levantando o braço, lentamente, o garoto posicionou-se quase de lado em relação

Às Portas de um Castelo - 3ª Parte

Essa é uma série de contos. Deseja ler a  1ª Parte  ou 2ª Parte ?   Um vento estranhamente sonoro soprava à sua volta, dando a impressão de que algo muito grande era arrastado, em algum lugar distante dali. Ainda de olhos fechados, apalpando o solo rochoso e plano em que jazia, o homem sentiu-se aliviado por estar vivo e inteiro. Começou, então, a levantar-se ainda com certa dificuldade, concentrando-se em seus membros – especialmente as pernas – porque temia alguma fratura ou alguma lesão incapacitante em sua coluna vertebral. Quando, finalmente, abriu os olhos, espantou-se com a desolação em que se encontrava e com o céu escuro e nebuloso, como em uma manhã de inverno.   Ao longe, viam-se alguns picos escarpados do que ele temia que fossem montanhas, mas que lembravam mais troncos de gigantescas árvores sem galhos e folhas. Tal era a distância, que chegou a duvidar que um tiro de rifle alcançasse alguma daquelas colossais colunas rochosas. Aproximou-se da beira do pico onde

Às Portas de um Castelo - 2ª Parte

Essa é uma série de contos. Deseja ler a  1ª Parte ? ...   - Em coma?! – disse o rapaz usando boné azul, arqueando as sobrancelhas.   - Sim, há cinco anos, foi o que ele me disse. – respondeu o colega de classe, um tipo pálido e alto. - Vou procurá-lo mais tarde e perguntar mais sobre esse tio dele.   O professor olhou para os dois alunos, interrompendo por alguns segundos sua explicação, depois retomou a aula. Aqueles dois eram seus melhores alunos, mas ultimamente eles andavam mais inquietos e sempre os flagrava cochichando em meio à aula. Então a aula acabou e o professor viu os alunos saírem da sala apressados...   Eles estavam no segundo ano de Psicologia e estavam às vésperas de mais uma semana de provas. O mais alto ia à frente falando no celular, enquanto o outro ia atrás procurando alguma coisa em sua mochila.   - Jonas... – o outro ainda estava distraído com o celular. - Jonas, espere um minuto! Eu acho que esqueci uma coisa na sala. Já volto!   - De novo, onde