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Mostrando postagens de 2011

O Viajante do Amanhã

  Uma placa dizia que aquela praça tinha sido inaugurada no dia 26 de maio de 1955. Diante dela estava um rapaz magro, usando uma blusa de lã aberta e calças jeans. Em seus óculos escuros, o reflexo distorcido da placa parecia um desenho surreal. De sua mochila ele tirou uma câmera fotográfica e, discretamente, disparou contra a placa levemente escurecida pelo tempo. Assim que terminou, ouvindo o avanço automático do filme, olhou mais uma vez a placa, coçando a nuca. De repente, sua visão turvou-se e sentiu como se mergulhasse sua cabeça num tanque d’água e a pressão o ensurdecesse levemente.   A primeira vez que sentiu isso foi aos 14 anos, quando viajava de mudança com seus pais por uma rodovia. Era de manhã e tocava algo no rádio – ele não lembrava muito bem, mas parecia bom. Estava tão distraído com um imenso e vistoso milharal que não teve tempo de ver contra o que o carro deles colidira, mas sentiu seu corpo sendo arremessado e bateu com a cabeça no pára-brisa. Estava ...

Às Portas de um Castelo - 5ª Parte

Essa é uma série de contos. Deseja ler a 1ª Parte ou 4ª Parte ?   À medida que ele avançava naquela estrada, parecia que aquela subida se tornava cada vez mais inclinada, quase vertical. Mas ele sabia que estava perto do casebre porque disseram que o casebre do Velho ficava “perto da estrada, quando a subida terminava”.   O tempo estava se esgotando outra vez e ele não tinha menor noção de quanto tempo ainda tinha disponível... Ele precisava chegar!   Correndo o mais rápido que podia, ele chegou a cruzar com alguns loucos que não sabiam onde estavam, nem para onde iam e, portanto, seriam inúteis para indicar se ele estava no caminho certo. O céu continuava nublado, mas não estava tão escuro e ele conseguia ver os campos e pastagens que cercavam a estrada de terra dura. Então ele viu algumas árvores mais adiante e se apressou, correndo com as mãos próximas ao solo por causa da subida, tropeçando em seus próprios pés. Havia uma luz débil e alaranjada em cada janela ...

Às Portas de um Castelo - 4ª Parte

Essa é uma série de contos. Deseja ler a  1ª Parte  ou  3ª Parte ? ...   Jonas e David folheavam um livro, debruçados sobre uma bancada junto à parede. Enquanto isso, André olhava o grande espelho sem reflexo, apreensivo, sem se aproximar muito. Percebendo a curiosidade do novo amigo, David pediu que ele tocasse a superfície do espelho e garantiu que não havia nada a temer. Então, cuidadosamente, o rapaz aproximou-se do espelho na parede, com o braço estendido e quando as pontas dos seus dedos estavam a poucos centímetros da superfície, Jonas, que observava em silêncio, gritou:   - Meu Deus! – e vendo o susto que deu em André e, consequentemente, em David, caiu na gargalhada, apontando para o novato. – Te peguei!   Passado o susto, David, que passou pela mesma situação antes, sorriu, balançando a cabeça, mas André estava assustado ainda.   - Vá em frente. – disse David, procurando acalmá-lo.   Levantando o braço, lentamente, o garoto ...

Às Portas de um Castelo - 3ª Parte

Essa é uma série de contos. Deseja ler a  1ª Parte  ou 2ª Parte ?   Um vento estranhamente sonoro soprava à sua volta, dando a impressão de que algo muito grande era arrastado, em algum lugar distante dali. Ainda de olhos fechados, apalpando o solo rochoso e plano em que jazia, o homem sentiu-se aliviado por estar vivo e inteiro. Começou, então, a levantar-se ainda com certa dificuldade, concentrando-se em seus membros – especialmente as pernas – porque temia alguma fratura ou alguma lesão incapacitante em sua coluna vertebral. Quando, finalmente, abriu os olhos, espantou-se com a desolação em que se encontrava e com o céu escuro e nebuloso, como em uma manhã de inverno.   Ao longe, viam-se alguns picos escarpados do que ele temia que fossem montanhas, mas que lembravam mais troncos de gigantescas árvores sem galhos e folhas. Tal era a distância, que chegou a duvidar que um tiro de rifle alcançasse alguma daquelas colossais colunas rochosas. Aproximou-se da...

Às Portas de um Castelo - 2ª Parte

Essa é uma série de contos. Deseja ler a  1ª Parte ? ...   - Em coma?! – disse o rapaz usando boné azul, arqueando as sobrancelhas.   - Sim, há cinco anos, foi o que ele me disse. – respondeu o colega de classe, um tipo pálido e alto. - Vou procurá-lo mais tarde e perguntar mais sobre esse tio dele.   O professor olhou para os dois alunos, interrompendo por alguns segundos sua explicação, depois retomou a aula. Aqueles dois eram seus melhores alunos, mas ultimamente eles andavam mais inquietos e sempre os flagrava cochichando em meio à aula. Então a aula acabou e o professor viu os alunos saírem da sala apressados...   Eles estavam no segundo ano de Psicologia e estavam às vésperas de mais uma semana de provas. O mais alto ia à frente falando no celular, enquanto o outro ia atrás procurando alguma coisa em sua mochila.   - Jonas... – o outro ainda estava distraído com o celular. - Jonas, espere um minuto! Eu acho que esqueci uma coisa na sala. ...

Às Portas de um Castelo

  Eu me lembro de poucas coisas, pra falar a verdade.   Lembro que eu estava em   frente ao posto de gasolina mais badalado da cidade quando em uma hora da noite apareceu um Land Rover com a insígnia da Polícia Federal. O que (ou quem) eles estavam procurando, eu não tenho certeza até agora, enquanto escrevo essas palavras. E eu sei...de alguma forma, não importa a forma com que eu me expresse, tudo isso vai parecer incoerente e tirado daquelas histórias do Stephen King.   Está bem! Para que ninguém fique pensando que eu sou mais um louco escrevendo coisas sem-sentido, eu quero que fique bem claro que eu sonhei tudo o que eu vou (ou ao menos pretendo) narrar aqui. No entanto, eu dou uma notável importância aos sonhos e acredito que eles sejam mais do que um entretenimento de uma mente em "repouso" ou fruto das preocupações mundanas que se condensam em pesadelos bizarros. O fato é que, de repente, eu estava subindo as escadas de uma construção gigantesca e não demorou...

Flores Coloridas

  Confesso que eu sentia falta da minha cidade. Depois de tantos anos, imaginando que muita coisa teria mudado, eu chego à conclusão que, exceto pelas pessoas, a cidade continua a mesma. Eu estou aqui por causa do casamento da minha irmã mais nova. Ao menos, por um bom motivo. A última vez que estive aqui foi em um funeral...   Estive bem ocupado nos últimos anos e um momento como esse nem me preocupava. Ainda agora nem me preocupa!   Durante a cerimônia, eu consegui ver e reconhecer alguns parentes, uns velhos amigos e gente que, da mesma forma que eu, veio para presenciar a ocasião.   Procurei ficar perto dos noivos na maior parte do tempo para não perder nenhuma palavra, pois lá do fundo eu não estava ouvindo nada. Por um momento, minha irmã olhou na minha direção e pareceu que ela entendeu a felicidade crescente em mim porque ela sorriu e um flash disparou atrás de mim.   Era meu irmão tirando foto. Havia uma garotinha ao lado dele, com um lindo vestidinho b...

Z-Mind

... Luzes frenéticas. Uma música soa alto dentro da minha cabeça. Não estou de carro, nem em nenhum outro veículo; apenas corro ensandecido por ruas e becos ouvindo as vozes, os sussurros... É a minha própria voz. Eu sussurro enquanto corro. Aquela droga me deixou pirado de vez, afinal eu sabia que não sobreviveria aos efeitos daquela maravilha. Tudo que há de mais eletrizante, inserido de uma só vez na cabeça do sujeito e...a música não pára! Ouço tudo e vejo mais ainda, mas não sinto frio, nem consigo distinguir-me no cenário. Às vezes vejo carros desfocados passando...buzinas! Bip-bip-bip! Meu comunicador está tocando...eu paro e toco a nuca com o indicador e o dedo médio: -Alô? -Arcaid, onde você se meteu? A festa não acabou, cara! Era o Andarilho, o grande propagador da Z-Mind da área. O problema é que com o meu "alô" eu indiquei minha localização no rastreador dele. "Dois minutos para Eles aparecerem", sibilou o lado sensato do meu cérebro. A Z-Mind, ou Zero ...